[Abstract]
Os editoriais constituem espaço singular em que os jornais se posicionam por meio de um código específico de produção textual, evidenciando, assim, sua condição de atores políticos. Todavia, a literatura na área de Jornalismo Político permite verificar que é relativamente baixo o número de estudos brasileiros voltados à anális e sistemática do discurso político contido em tais textos opinativos. Esta dissertação, de cunho quanti-qualitativo, investiga o discurso editorial do jornal brasileiro Folha de S. Paulo (FSP) acerca do tema “corrupção” entre 1990 e 2016 – período que corresponde aos primeiros 27 anos desde a primeira eleição presidencial direta após o fim do Regime Militar (1964 – 1985). A intenção é examinar o percurso dos editoriais sobre esse tema e contribuir para compreensão acerca de quais fatores incidem na produção do género editorial. Há três hipóteses, resumidas em: 1) o discurso de combate à corrupção e exigência de responsabilização dos envolvidos é predominante e se acentuou à medida que a fiscalização se fortaleceu; 2) o discurso varia de acordo com a época e grupo político acusado e 3) a corrupção é um tema contínuo da agenda editorial da Folha de S. Paulo, mas a frequência de publicações aumenta em sintonia com as ocorrências históricas expressivas.
Como estratégia metodológica, adota-se, de forma ilustrativa, (1) uma descrição quantitativa concernente à oscilação da frequência de publicações considerando-se todo o volume de editoriais do universo pesquisado (n=850) a fim de avaliar se, e em que medida, existe associação entre o número de publicações e os acontecimentos históricos do período. Na etapa qualitativa, recorre-se à (2) Análise do Discurso (AD) de uma amostra de editoriais (n=143), construída a partir da técnica de ano composto, tendo como unidade de análise os editoriais que mencionam a palavra “corrupção” e, como estratégia metodológica complementar, a dissertação recorreu à (3) aplicação de entrevistas em profundidade com editorialistas e editores de opinião que trabalharam no jornal no período analisado.
Os resultados encontrados confirmam as hipóteses, demonstrando que desde 1990 o jornal vem acentuando quantitativamente a presença do tema “corrupção” em seus editoriais, acompanhando a agenda de investigações do país. Qualitativamente, constata-se a trajetória do discurso, sendo que nos anos 1990, além de menor frequência de textos, percebeu-se que o jornal tratava do tema com certo receio, considerando o relativo baixo volume de denúncias e condenações à época. Nos anos 2000, sobretudo em razão do caso Mensalão, o discurso se acentua em volume e grau de combatividade. O jornal adota tom mais agressivo e reitera a preocupação com altos índices de percepção da corrupção brasileira e ausência de punições. Na década de 2010, com o julgamento do caso que dominou a década anterior e deflagração da Operação Lava Jato, o jornal passa a considerar o tema a partir de um ponto de virada, apontando a punição – vista no Mensalão e na Lava Jato – como prova de que o Brasil viveria um novo momento de enfrentamento do problema. Notou-se que a evolução do discurso acompanha o contexto histórico e político, contudo, não se altera em sua essência. Isto é, existem premissas a respeito da corrupção que se revelam constantes nos 27 anos analisados. Embora se proponham instrumentos de combate ao fenómeno, os textos não ultrapassam a barreira da constatação e do apontamento raso de possíveis causas, consequências e soluções ao problema. É um discurso automático, que situa o jornal numa perspectiva adversária à política, desqualificando-a enquanto articula a credibilidade e a imagem pública do jornal e do próprio campo jornalístico.
Palavras-chave: Jornalismo. Editoriais. Corrupção. Folha de S. Paulo. Discurso.
Ano de Publicação: 2017
Aluno: Ester Athanásio
Orientador: Prof. Dr. Paulo Jamil Almeida Marques
Universidade: Universidade Federal do Paraná
Mais informação: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/57489